Equilíbrio necessário, andamento perfeito!

Trabalho colaborativo

Este conceito apoia-se em processos de trabalho em conjunto (nos espaços formais e informais da comunidade educativa) reconhecendo-se, mais-valias potenciadoras de sucesso escolar e de vida.

Alguns autores utilizam o termo "colaboração" e "cooperação" como sinónimos apesar de qualquer um deles apresentar diferenças no modo como se desenvolve. Andrade, Hoffmann & Wazlawick (1998) definem estes termos como distintos, pois a "colaboração é uma atividade síncrona, resultante de um esforço contínuo para criar e manter uma concepção compartilhada do problema. Já a cooperação pode ser compreendida pela divisão do trabalho entre participantes, onde cada pessoa é responsável por uma parte do problema a ser resolvido.

De que falamos quando falamos de Escola?

        
De que falamos quando falamos de Escola ?

Maria José Araújo
Escola Superior de Educação

Instituto Politécnico do Porto
mjose@ese.ipp.pt




       O debate público acerca da educação tem marcado posição no espaço público da comunicação social justamente através da interpelação do papel da Escola. No contexto desse debate afirma-se o pressuposto de que o que se entende por educação se confina aos processos de escolarização e que, por outro lado, há uma verdade única e absoluta sobre o projeto de escola que é "melhor para todos".

       Mas a educação compreende muito mais processos e experiências que aquelas que são vividas na escola e durante a escolarização. Adicionalmente, e contrariando qualquer ideia de homogeneidade no que concerne à oferta escolar, não há uma escola, isto é, um percurso escolar uniformizado e homogéneo, padronizado, mas antes muitas "escolas" e, por conseguinte, uma enorme diversidade de projetos e de protagonistas que produzem e se vêem continuamente confrontados com discursos, tantas vezes difusos, em que se entrecruzam conceitos, vontades, sentimentos e projetos de vida. Falar de escola (pública, universal), em nome de todos, implica atender à grande pluralidade dos espaços sociais e das variações culturais inerentes, observando-os nas suas específicas articulações com dimensões sociais, culturais e geográficas mais amplas. Pressupõe analisar as práticas sociais e as representações que professores, pais e alunos têm dos locais que frequentam, tendo em conta as condições de produção cultural dessas representações e práticas. O que habitualmente se designa, simplificadamente, por escola é, na verdade, uma entidade abstrata, mas uma entidade abstrata que continua a mobilizar expectativas coincidentes para muitas famílias, como a da esperança de uma vida melhor, não obstante as formações que disponibiliza já não garantirem mobilidade social e/ ou emprego.

As instituições escolares são caracterizadas não só pelas redes de relações formais (profissionais), mas também pelas informais, em que a cumplicidade e entreajuda se têm revelado essenciais para o desenvolvimento de projetos de interesse comum. Estamos perante instituições muito complexas, do ponto de vista organizativo e pedagógico, que incluem vários grupos e ciclos de ensino: Básico e Secundário, Pré-escolar, formação profissional, etc., com vários subsistemas (administrativos, pedagógicos e outros) que têm, eles também, dimensões muito estruturadas e planificadas. Essas estruturas correspondem ao esforço de estabelecimento de ligações e modelos de trabalho, com vista a alcançar objetivos definidos. A escola é uma instituição que planifica sistematicamente em cada ano escolar o que vai fazer com os alunos/as e, mesmo considerando que essa previsão pode ser meramente burocrática, ela não deixa de ter uma influência muito grande nas práticas pedagógicas e, assim, nos percursos de cada um dos jovens alunos/as que a frequentam.

As escolas são, portanto, instituições que têm que antecipar continuamente as suas atividades, estando inerente ao seu funcionamento a previsão e a decisão por objetivos e esquemas codificados, decretos-lei, regulamentos, regras e manuais muito específicos e relatórios, entre outros documentos que burocratizam o seu espaço e sobrecarregam os seus protagonistas, sendo esta uma realidade pouco mencionada e discutida publicamente. Paralelamente, os professores fixam-se, mudam e/ou adaptam-se em cada ano letivo à realidade das instituições em que trabalham e tentam desenvolver com os pais e encarregados de educação relações de trabalho que não se esgotam no ato educativo. As funções, a importância dessas funções, o volume de trabalho, as relações interpessoais, os imprevistos, os tumultos relacionais e as perspetivas e expectativas pessoais e institucionais dão lugar a uma ocupação exacerbada, que condiciona seriamente todo trabalho realizado. A vontade e a disponibilidade para abrir a porta a novos projetos significam sempre mais atenção, mais cuidado e mais trabalho. Ao ampliar-se a teia de relações torna-se muito difícil atender plenamente a todos os aspetos que não fazem parte da agenda formal das preocupações educativas (relativas ao ensino formal), mas constituem fatores circunstanciais de grande importância. Assim, os olhares externos que incidem sobre o meio escolar têm de pautar-se por perspetivas e procedimentos éticos que não ponham em causa dimensões essenciais da vida interna e privada da instituição, que não ponham em causa a vida das pessoas (com ideias feitas e comentários descontextualizados), mas que constituam uma mais-valia e uma possibilidade de ajudar a inventar o quotidiano. No quotidiano, tudo tende a ser percebido como rotina e monotonia, mas é interrogando as modalidades através das quais ele se produz que nos damos conta de que é nos aspetos frívolos e anódinos da vida social, no ‘nada de novo’, que encontramos condições e possibilidades de resistência suscetíveis de alimentar a sua própria rutura, como sublinhou o sociólogo José Machado Pais. É importante ter em conta que quando a rotina se transforma num sistema rígido dificilmente conseguimos dar resposta a situações novas.

Diferentes vozes têm vindo a afirmar publicamente posições de re(valorização) de uma escola de tipo transmissivo, recusando liminarmente qualquer inovação pedagógica. Estas perspetivas, pouco ou nada sustentadas no conhecimento das realidades e no seu estudo sistemático, não só traduzem abordagens superficiais e simplistas como induzem discussões sem qualquer utilidade para o esclarecimento da opinião pública, agravando as visões distorcidas e estereotipadas da escola e dos seus problemas. A escola para todos/as deve ser discutida por todos e com todos/as e o efeito positivo desse debate será o de afirmar que os grandes temas que dizem respeito à vida social podem e devem ser discutidos, que as propostas dos políticos, dos técnicos e dos tecnopolíticos, quando são propostas de opções políticas, têm de estar acessíveis ao escrutínio público, numa base de conhecimento adequado e atualizado para tal. A discussão sobre a escola e a educação é necessária e deve valorizar-se; o que precisamos é de garantir que essa discussão seja mediada por uma comunicação social informada e empenhada. Mais: precisamos de ter a garantia de que quem promove na comunicação social essa discussão se encontra plenamente informado sobre as temáticas que aborda. É neste sentido, que a formação pode ajudar a visibilizar a(s) escola(s) que temos e que queremos, a(s) escola(s) em que cada um de nós pensa e que deseja. Essa Outra Escola com que muitos sonham, mas a que só alguns conseguirão aceder. 

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